Boy's Love: conheça o gênero de drama que conquistou o coração dos brasileiros
- Nathália Guimarães
- 7 de jul. de 2024
- 3 min de leitura
Atualizado: 8 de jul. de 2024
Especialistas apontam a importância de trazer protagonistas da LGBTQIAPN+ em produções audiovisuais
Não foram só os k-dramas clichês que ganharam o coração das pessoas pelo mundo. Nos últimos anos, novas produções asiáticas têm chamado a atenção global. Originado principalmente nas culturas pop japonesa, coreana e tailandesa, o BL ou Boy’s Love, é um gênero que explora romances e relações homoafetivas. Essas produções variam de dramas “intensos” até comédias “leves” com histórias de amor “sensíveis” e bem “desenvolvidas”.
No Brasil, esse gênero também tem feito sucesso. O consumo de dramas BL no país registrou um aumento de 188% em 2022, de acordo com dados do serviço de streaming Viki Rakuten, especializado em produções asiáticas. De acordo com o levantamento, o consumo brasileiro desse gênero específico cresceu 30% durante esse período.

Representatividade
A psicóloga Liliany Souza, pesquisa e estuda temas relacionados a gênero e sexualidade. Ela explica que os seres humanos estão inseridos dentro de uma cultura, que é formada a partir daquilo que a sociedade produz e consome.
"Quando nós estamos falando de cultura pop, como filmes e séries, isso afeta diretamente a nossa formação e quem somos. É importante ter personagens da LGBTQIAPN+ como protagonistas, porque existe uma identificação. Tudo bem se eu sou assim, não é errado, não é um problema”, aponta.
Julio Cardia, CEO do Centro LGBTQIA+ de Brasília, fala sobre a importância do protagonismo LGBTQIAPN+ em séries e filmes, como os dramas BL.
“Sempre foi muito caricata a representatividade da nossa comunidade. Dessa forma, ter personagens LGBTQIA+ é parte fundamental do crescimento da própria arte”, destaca.
O especialista ainda complementa sobre o protagonismo e a necessidade de uma representação não caricata da comunidade LGBTQIAPN+. “A gente acaba se identificando com um protagonista e isso faz com que alcancemos mais espaço nessas produções, porque antes só saíamos representados em papéis secundários. Então é muito importante que estejamos em vários papéis, seja mocinho, ou vilão, mas que mostre essa polaridade e quebre os estereótipos, porque nós não temos uma personalidade só.”
Quebra de preconceito
A psicóloga Liliany Souza destaca que antigamente havia o ocultamento de pessoas LGBTQIAPN+, e hoje, esses conteúdos estão mostrando a existência delas.
“Nós existimos, e durante muito tempo precisamos ficar escondidos no armário. E agora, pessoas LGBTQIAPN+ estão aparecendo na tela, enquanto antes não apareciam. E para além disso, há uma naturalização, uma quebra desse preconceito, que é uma ideia pré-concebida, estabelecida cognitivamente a partir de um argumento errado”, completa.
Para Raíssa Teixeira Ewerton, diretora, roteirista e sócia produtora executiva da Catimbó Filmes, quando bem feitas, produções audiovisuais com personagens LGBTQIAPN+ podem ajudar a quebrar preconceitos.
“Filmes, séries e televisão são grandes movedores de sociedade no que diz respeito à assuntos sociais. Então quando certas pautas são devidamente tratadas em produtos culturais, a facilidade de se lidar com preconceitos acaba sendo muito maior. Por exemplo, minha avó que viu na novela uma pessoa que é gay e ela gosta muito de assistir, provavelmente ela vai tratar melhor o neto que tem as mesmas características”, avalia.
Público
A autônoma Ellen Rodrigues, de 25, mora em Ceilândia, região administrativa do Distrito Federal. Ela relembra que começou a ler mangás do gênero yaoi (boy’s love) e após isso, se interessou mais sobre o assunto e começou a assistir também aos dramas BL.
“Eu gosto pois são histórias clichês, mas com personagens gays. A maioria das histórias LGBT do Ocidente são rígidas e muitas acabam de forma trágica. Só mais recentemente que começamos a ver histórias mais descontraídas. As pessoas estão muito atreladas à essa ideia que para representar uma minoria tem que escancarar o sofrimento. É bom assistir uma história fofa que acaba bem”, explica.
O assistente de pós-vendas Vinicius Siqueira, de 21 anos, também mora em Ceilândia (DF) e explica que começou a assistir a dramas do gênero BL em 2022, por indicação da amiga Ellen.
Para ele, o dramas BL “aquecem o coração”, com romances “água com açúcar”. Vinicius explica que esse gênero retrata o amor de forma leve e divertida, por isso o cativa.
“Eu acho importante para pessoas que podem se descobrir LGBT. Pode ajudar algumas pessoas a dizer quem elas são, de não ter medo de viver o que deseja. Eu mesmo me ‘aceitei’ gay em 2013, quando assisti ao curta ‘Hoje eu quero voltar sozinho’. Hoje está melhor, mas continuamos lutando para ter mais espaço, em diversas áreas”, pontua.
Confira os dramas BL indicados por Ellen e Vinicius:

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Por Lara Oliveira e Nathália Guimarães
Revisão por Nayce Isabella